quarta-feira, outubro 15, 2008

Blog Action Day 08 - Pobreza

Aproveitando, como muitos, e pela licita razão que se torna, o BAD-08, vou tratar sobre o assunto "Pobreza".

As imagens mais fáceis que se tem da palavra pobreza, e que renderam dividendos a grande mídia, é a de uma ou mais crianças etíopes com a fome a lhes mostrar os ossos sobre a pele. Falando de pobreza brasileira, a imagem iria oscilar entre um retirante nordestino e uma tomada cenográfica de uma favela, ou um desmoronamento de uma encosta qualquer. Esta pobreza é a "versão oficial".

Há muitas outras, escondidas de diversas formas, e por diversas razões, sobre as quais devemos deter o pensamento. A pobreza de espírito é talvez a mais fácil de perceber, porque nos angustia de imediato. A pobreza moral assola nossos lares antes mesmo de se tornar notícia na política, e é provavelmente a mais grave e a principal responsável pela situação na qual nos encontramos, em todos e quaisquer aspectos. Mas acima de todas, a que custará mais tempo e esforço para que se corrija, é a pobreza educacional.

E não estou falando de indicadores, índices, provas, provinhas ou provões estatais. A educação, seja ela doméstica ou escolar, superior ou complementar, gratuita ou paga, seja ela qual for, faliu.

Não há mais quem ensine, os pais não foram ensinados, não tem educação formal básica nem para si, quanto mais para a adequada formação dos filhos, alguns poucos ainda tentam, totalmente sem domínio do assunto, mas a maioria desistiu de ensinar aos seus qualquer conceito que possa ser tomado como "boa educação". Os que podem esperam isto das escolas caras.

Nas escolas, os professores, que sequer conseguem estabelecer uma relação de respeito mútuo, se esforçam para repetir parágrafos ensaiados e memorizados, por aqueles que foram seus professores, sem entender a real dimensão da matéria, sem compreensão, sem domínio. Normalmente, com alguma razão, culpam os pais, pela educação que não deram aos filhos, e que escusa e justifica a falha que terão como educadores.

No ensino superior, os mestres e doutores limitam-se a garantir que o processo todo não falhe, produzindo incontáveis incapazes diplomados, que durante o curso concentram todos os esforços num único objetivo: Carpe Diem.

Mas não foi apenas a instituição familiar que falhando justificou a falha da escola, e que permite a universidade, ao receber o produto incompleto desse ciclo, gerar cópias infinitas de um pensamento único e padronizado, que não é questionado nem corrigido, pois os professores não sabem do que falam e os alunos não tem interesse em aprender, concentram-se todos em executar o processo, levando o aluno a encerrar os semestres com uma nota que denote o aproveitamento razoável das asneiras que lhe ensinaram.

Ainda que alguém, bem intencionado decidisse quebrar este círculo vicioso, não teria ferramentas, não haveria professores preparados para realmente ensinar, mesmo que encontrasse alunos desejosos de aprender.

Talvez fosse a hora de parar todo o processo, e recomeçar do início, ainda que só houvessem algumas vagas e que a quase totalidade dos alunos ficassem simplesmente excluidos. Teríamos um grande ganho, pois pelo menos a maioria conheceria a verdade da própria situação, não existiriam tantos diplomados incapazes, todos prontos a ensinar a próxima geração.

Como resolver o problema familiar já não sei, seria muito complicado proibir os pais incompetentes de reproduzirem-se.

Alessandro Martini