terça-feira, outubro 23, 2007

Livrai-nos Deus de nossos inimigos

Gustavo Corção

Um leitor amigo telefonou-me hoje com palavras de compreensão e encorajamento. Graças a Deus não são poucos os telefonemas desta espécie. Mas hoje, creio que pela primeira vez senti a necessidade de assinalar a presença de uma posição prévia que freqüentemente marca essas manifestações sobre os conflitos em questão. Sim, hoje, numa espécie de retrospecção multiplicada, como se tivesse em mim acionado às avessas um computador, observo uma constante nessas comunicações de meus leitores amigos e correligionários. Muitos se queixam do público dilaceramento da Igreja, dos debates entre irmãos da mesma Fé que, no calor da controvérsia, podem chegar a ferir a Caridade e apresentar a triste figura da Igreja ferida em sua unidade. Não, caro leitor amigo e correligionário, os artigos de luta que venho mantendo em público, abertamente, sem nenhum disfarce e sem nenhuma precaução especial no arredondamento das frases, não tem por objeto as divergências dos Irmãos na Fé e sim as injúrias feitas à Igreja pelos seus INIMIGOS. Não sou eu quem pretende sondar o foro íntimo para dizer quem pertence à Igreja e quem está fora dela como inimigo a destruí-la; são eles mesmos que fazem questão de assim se caracterizarem, sem nenhum equívoco e de quase nos forçar a dar-lhes crédito. Escrevo sobre o que escrevem e falam, ou o que deles alardeiam os seus vastos meios de comunicação, e não hesito um segundo em dizer que aceito o combate e que me considero INIMIGO e não apenas um irmão na Fé, com amenas divergências.
Bem quisera, bem quisera freqüentemente entreter-me aqui da grandeza e da beleza das coisas de Deus; ou até entreter-me em discussões vivas, mas realmente amistosas, sobre reais e dolorosas divergências que me separa de alguns irmãos na Fé. Preferiria o debate elevado e sempre inspirado pela santa Caridade, que tem como primeira exigência o amor da verdade. Muitas vezes me entretenho com amigos sobre todos os assuntos que tocam a sagrada doutrina, e não tenho hoje mais feliz passatempo. Mas a sinistra realidade é a do combate público, escandaloso, que o inimigo faz à Igreja, e que, portanto, nos impõe.
Volvo quase um século, para lembrar a primeira lição de catecismo recebida de minha mãe. Creia-me o leitor ou não, mas o fato é que realmente me lembro. Suspendendo a esferográfica um instante, revi esse momento que peço a Deus rever na hora de minha morte: eu pequenino, nos joelhos de minha mãe, aprendia o Pelo Sinal. Segurava-me ela a mão e, com meu pequenino polegar, fazia o sinal iniciador da vida católica, repetindo as palavras: PELO SINAL DA SANTA CRUZ, LIVRAI-NOS DEUS NOSSO SENHOR, DE NOSSOS INIMIGOS, EM NOME DO PAI, DO FILHO, E DOS ESPÍRITO SANTO.
Hoje, depois de um século de empulhamentos e do triunfal aggiornamento trazido por uma apoteose de equívocos, querem nos inculcar a amolecida idéia de um cristianismo sem combate, sem inimigos e, por via de conseqüência, sem necessidade do Sinal da Cruz. Ouso dizer que a paz mundial, a paz terrestre, a paz feita de bem-estar e do comodismo, etc...constitui uma das principais preocupações do Demônio. Muito melhor do que nós, ele sabe que a obsessão desse cuidado nos leva ao abandono de qualquer ideal de Bem e de Verdade, e diverte-se em saber também que esse é o caminho da mais espantosa explosão de inimizades que o mundo conhecerá. Por mim, confesso que me apavoro, quando sinto o horror que esta simples palavra provoca nesta atualidade costurada de ecumenismos, cursilhos, diálogos e demais retalhos da fantasia dopada. Uma vez, conversando com um general, usei inadvertidamente este vocábulo: “os nossos INIMIGOS”, e ouvi esta afetuosa observação: Professor, eu prefiro o termo adversário...Calei-me aterrado. Se os padres e os militares não sabem mais o que é o “inimigo”, quem o saberá? Porque, na verdade, as duas instituições que devem ter a viva noção desta entidade, são realmente a Igreja e o Exército. Aqui no Brasil, as desavenças acaso ocorridas entre essas duas instituições se explicam umas vezes pelo fato de não serem “da Igreja” aqueles que em nome dela pretendem falar, outras vezes pelo fato de não saberem, os homens da Igreja, que o Exército, de 64 até hoje luta a seu lado contra o inimigo comum.
Imagino que nesta altura meu leitor esteja a revolver as idéias que aprendeu sobre a Caridade, Evangelho, Perdão e outras grandes noções que auriu no regaço da Igreja. Sendo estudioso, lembra-se que o Concílio de Trento trouxe esta definição lapidar: A Igreja Militante é aquela parte de seus membros (ainda na Terra) que luta contra três cruéis Inimigos: o Diabo, o Mundo e a Carne.
Mas meu leitor também se lembrará de uma palavra de Cristo: Mas eu vos digo amareis vossos inimigos... “Meu Deus, como conciliar tantas idéias aparentemente opostas?! Como poderei amar se devo combater? Respondeu dizendo: combatendo! Porque esta é a melhor forma de Caridade a que ele tem direito. Por incrível que pareça são os pacifistas que pecam contra a Caridade quando querem que todos se unam e se misturem na mesma indiferença em relação à Verdade e ao Bem. Sim, não há mais odioso pecado contra a Caridade do que a amável condescendência com que permitimos e colaboramos com a permanência no erro e no mal. Não fazer questão de incomodá-lo, de combatê-lo, de tirá-lo da sua tranqüilidade no erro e no mal, é fazer uma das obras prediletas do Demônio.
O Globo, 25-7-74

terça-feira, julho 10, 2007

Nova espada a postos!

Há um novo site que merece uma visita, aos leitores e blogueiros amigos eu indico o Apostolado Defesa Católica:

www.defesacatolica.org


Passem por lá de deixem seus comentários.

sábado, julho 07, 2007

E Como Fica o Ecumenismo???

Está confirmado pela Santa Sé, para o dia 10/07 a publicação do documento da Congregação pela Doutrina da Fé "Respostas a considerar de questões sobre alguns aspectos acerca da doutrina na Igreja", onde será afirmado novamente que a "A Única e Verdadeira Igreja de Cristo É a Igreja Católica".

Discorrendo sobre isto alguém me questionou: "Mas este não foi sempre o entendimento da Igreja? A Igreja não pode ser ao mesmo tempo ecumenica e missionária?".

Eu respondo:

Sim, este sempre foi o entendimento da Igreja, MAS..., que ficou muito obscurecido depois do "subsistit in" da Lumen Gentium, onde se diz que "A verdadeira Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica", o que permite uma interpretação ambígua.

Se tomamos o "Ecumenismo" no sentido de [1]favorecer o regresso à unidade dos cristãos à única Igreja de Cristo(a Católica), não há realmente incompatibilidade, mas, se tomamo-lo como [2]o movimento no sentido de uma religião única(que não é especificamente a Católica), forma como tem sido atualmente entendido e executado, há sim uma incompatibilidade.

Trocando em miúdos, sendo a Igreja Católica a única e verdadeira Igreja de Cristo, devemos "missionariamente" trabalhar para a conversão de TODOS, protestantes, judeus, muçulmanos, etc., e favorecer a sua volta ou entrada à Única Igreja de Cristo, o ecumenismo[1]. Após o "subsistit in" implantou-se um relativismo eclesiológico que pregava que todas as Igrejas, possuiam a verdade ou parte dela, ou seja, também subsistiam na Igreja fundada por Cristo, sendo assim não há razões para uma ação missionária, pois basta ter uma religião, não importa qual porque todas tem a verdade e nenhuma tem toda a verdade, então teriamos apenas o ecumenismo[2], que é implantado removendo da doutrina católica todas as partes que vierem a se contrapor a doutrina de outras religiões.

Em resumo, este documento inverte completamente o atual sentido do termo ecumenismo para os católicos.

Se, como disse o Papa Paulo VI: "liberar a Missa de Sempre é condenar o Vaticano II através de um símbolo", emitir um documento que corrige uma declaração fundamental do concílio CVII 3 dias após liberar a Missa de Sempre, demonstra que o Santo Padre não pretende usar de símbolismos, está deixando explícita a sua intenção quanto a este concílio.

Viva Bento VXI que está restaurando a Igreja Católica!!
Viva o Papa de Fátima!

sexta-feira, julho 06, 2007

Vaticano reiterará que a única Igreja de Cristo é a Igreja Católica

06/07 - 09:43 - AFP

O Vaticano pretende divulgar um documento reiterando que a única Igreja de Cristo é a Igreja Católica e, com isso, confirmará a declaração "Dominus Iesus" do ano 2000, que suscitou fortes polêmicas no mundo cristão, revelou nesta sexta-feira a imprensa italiana.

Segundo a agência I-Media especializada em notícias do Vaticano, este documento da Congregação para a Doutrina da Fé - antigo Santo Ofício - será publicado no dia 10 de julho.

Este texto voltará a afirmar que a Igreja de Cristo está "realmente e unicamente na Igreja Católica", segundo Il Giornale.

O objetivo é combater "o relativismo eclesiológico", condenado pelo papa Bento XVI, segundo o qual todas as igrejas que dizem fazer parte do cristianismo têm o mesmo nível de verdade ou que cada uma delas não tem mais que uma parte dessa verdade.

Antes de se tornar Papa com o nome de Bento XVI, o cardeal Joseph Ratzinger presidia a Congregação para a Doutrina da Fé, e a declaração "Dominus Iesus" foi divulgada sob sua responsabilidade.

Essa declaração, segundo a qual apenas a Igreja Católica dispõe de todos os meios de salvação, causou comoção em meio às igrejas protestantes, classificadas de simples "comunidades eclesiásticas" pela "Dominus Iesus".

Il Giornale informa que a declaração a ser divulgada pelo próximo documento do Vaticano se refere a uma frase do texto do Concílio Vaticano II "lumen gentium" (a luz das nações, sobre a missão universal da Igreja), que afirma que a única Igreja de Cristo "subsiste" na Igreja Católica.

Este verbo suscitou diversas interpretações nos últimos anos, embora Il Giornale lembre que o cardeal Ratzinger ressaltava na "Dominus Iesus" que com o emprego de "subsiste" o Concílio queria dizer "existe realmente".

nou/dm

Fonte:
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2007/07/06/vaticano_reiterara_que_a_unica_igreja_de_cristo_e_a_igreja_catolica_912646.html

quarta-feira, julho 04, 2007

Apenas umas Poucas Horas...

Dentro do que já podemos contar como "poucas horas", com base na confirmação da data pelo site I.Media para o dia 07/07, será divulgado o Motu Próprio Liberalizando a Missa Tridentida, que a midia modernista agora chama de Missal de João XXIII, entre os rumores que temos, há um que se presta a comentários, o Missal Tridentino será liberado como forma liturgica "extraordinária" em relação ao Novus Ordo que será a forma liturgica "ordinária".

Pesando sobre ele as acepções que estes termos podem ter em nossa lingua pátria, afinal "ordinário" que no documento papal significaria "Que está na ordem das coisas habituais; comum, habitual, normal", por cá também vem a significar "Medíocre, Grosseiro, De qualidade média ou inferior, Ruim", assim o termo "extraordinário" que o documento nos traria como "Fora do ordinário, Adicional", por aqui também recebe o significado de "Admirável, grandioso, Muito distinto".
[Definições retiradas do Dic. Michaelis.]

Assim como ouvimos dizer "aquele sujeito é um ordinário" ou "aquele sujeito é extraordinário" provavelmente ouviremos dizer "fui ontem numa Missa Extraordinária", e saberemos bem do que falam.

Dentro deste espírito, vale ressaltar uma galeria de imagens postada hoje (04/07) no site Rorate Caeli, que trago para este post, e bem expressa a diferença:
http://rorate-caeli.blogspot.com/2007/07/what-is-there-in-name.html.




Comparando os ritos:

Ordinário
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Extraordinário
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Ordinário

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Extraordinário

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Ordinário
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Extraordinário



Alessandro Martini


PS.: Os numerólogos de plantão vão ter trabalho, afinal de contas o documento será publicado no dia 07/07/07-Sábado (o sétimo dia da semana), só falta que seja as 07:07.
Haja perfeição!!!

domingo, junho 17, 2007

Santo Antonio de Pádua- “Martelo dos hereges”

O grande taumaturgo de Pádua –– ou de Lisboa, sua cidade natal –– embora com uma curta existência terrena, tornou-se um dos santos mais populares do mundo, sendo venerado tanto no Oriente quanto no Ocidente
Plinio Maria Solimeo

Alegra-te, feliz Lusitânia! Salta de júbilo, Pádua ditosa! Pois gerastes para a Terra e para o Céu um varão que bem pode comparar-se com um astro rutilante, já que brilhando, não só pela santidade da vida e gloriosa fama de milagres, mas também pelo esplendor que por todas as partes derrama a sua celestial doutrina”. Esse foi o esplêndido elogio que fez desse santo o Papa Pio XII.(1)










“Doutor da Igreja”, “Martelo dos Hereges”, “Doutor Evangélico”, “Arca do Testamento”, “Santo de todo o mundo” –– são alguns dos títulos com que os Soberanos Pontífices honraram aquele cuja vida foi, no dizer de um de seus biógrafos, um milagre contínuo.

Natural de Lisboa onde nasceu em 1191 ou 1195, filho dos nobres Martinho de Bulhões e Teresa Taveira, o futuro santo recebeu no batismo o nome de Fernando. De boa índole, inclinado à piedade e às coisas santas, sua formação espiritual e intelectual foi confiada aos cônegos da Catedral de Lisboa por seu pai, oficial no exército de D. Afonso.

Clérigo Regular de Santo Agostinho

Segundo alguns de seus biógrafos, na adolescência Fernando foi acometido por violenta tentação contra a pureza. Para aplacá-la, estando na catedral, o jovem traçou uma cruz com os dedos, numa coluna de mármore, ficando nela impressa como em cera. Avaliando nessa ocasião os perigos que corria, o adolescente quis entrar para o mosteiro de São Vicente de Fora, dos Clérigos Regulares de Santo Agostinho, nos arredores da capital portuguesa, quando contava 19 anos de idade.

Ali permaneceu dois anos, findos os quais, por ser muito procurado por parentes e amigos, pediu aos superiores que o transferissem para o mosteiro Santa Cruz de Coimbra, casa-mãe do Instituto. Foi ordenado sacerdote em 1220. Frei Fernando, entretanto, almejava abraçar um gênero de vida mais perfeito e mais de acordo com suas íntimas aspirações.

Transferência para a Ordem franciscana

Quando chegaram a Coimbra os restos mortais dos cinco protomártires franciscanos, que deram sua vida pela Fé no Marrocos, Frei Fernando sentiu imenso desejo de imitá-los, vertendo também seu sangue por Cristo.

Um dia, no verão de 1220, quando dois franciscanos foram ao seu mosteiro pedir esmola, Frei Fernando perguntou-lhes se, passando ele para sua Ordem, o enviariam à terra dos mouros para lá sofrer o martírio. Eles deram resposta afirmativa. No dia seguinte, depois de obter, a duras penas, autorização de seu Superior, mudou-se para o eremitério franciscano, onde se tornou um filho de São Francisco de Assis.

Frei Fernando mudou então seu nome para o do onomástico do eremitério, Antonio, que ele imortalizaria.

Conforme o combinado, Frei Antonio foi enviado no fim desse mesmo ano à África. Entretanto não estava nos planos da Providência que ele ilustrasse a Igreja como mártir, mas com suas pregações e santa vida. Assim, chegando ao continente africano, foi atacado de terrível doença, que o reteve no leito por longo período. Os superiores decidiram que, para curar-se, Frei Antonio deveria voltar a Portugal.

Acrisolado pela Divina Providência








Acometido por forte tentação contra a pureza, Santo Antonio traçou uma cruz com os dedos numa coluna de mármore da catedral de Lisboa ficando nela impressa como em cera



A mão da Providência, no entanto, desejava-o em outro campo de luta. O navio em que estava o convalescente, levado pela tempestade, foi parar nas costas da Itália, onde o santo encontrou abrigo em Messina, na Sicília. Lá soube que o seráfico São Francisco havia convocado um Capítulo em Assis, para maio de 1221. Antonio poderia, enfim, ver o pai e fundador dos franciscanos e contemplar sua angélica virtude.

Naquela grande assembléia o Provincial da Romênia resolveu levá-lo consigo. Frei Antonio obteve dele licença para permanecer no eremitério do Monte Paulo, a fim de entregar-se ao isolamento e à contemplação.

Entretanto a mão de Deus velava sobre ele, e chegou o tempo em que aquela luz deveria brilhar para o bem do mundo inteiro.

Começa a vida apostólica como grande pregador

Foi enviado a Forli com alguns franciscanos e dominicanos que deveriam receber as ordens sacras. O Padre guardião do convento em que se hospedavam pediu que algum dos presentes dissesse algo para a glória de Deus e edificação dos demais. Um a um, foram todos escusando-se por não estarem preparados. Restava Antonio. Sem muita convicção, o Superior mandou-lhe então que falasse, à falta dos demais.

Era a primeira vez que Antonio falava em público, e então viu-se a maravilha: de sua boca saíram palavras de fogo, demonstrando profundo conhecimento teológico e das Escrituras, tudo exposto com uma lógica, clareza e concisão que conquistou a todos.

Entusiasmado, o Guardião comunicou aquele sucesso ao Provincial, que transmitiu a notícia a São Francisco. O Poverello mandou então que Frei Antonio estudasse teologia escolástica para dedicar-se à pregação. Pouco depois, em vista de seus progressos, ordenou-lhe S. Francisco que trabalhasse na salvação das almas. Era o ano 1222, e Frei Antonio contava apenas 30 ou 31 anos de idade.

Força irresistível de suas fogosas palavras








Pádua: Basílica de Santo Antonio

Segundo seus biógrafos, “ele tinha um exterior polido, gestos elegantes e aspecto atraente. Sua voz era forte, clara, agradável, e sua memória feliz. A essas vantagens, juntava uma ação cheia de graça”.(2) Entretanto, “seu traço característico, o milagre constante de sua existência, é a força incontestável de sua pregação, o poder de sua voz sobre os corações e as inteligências”.(3)

“Quando ele fulminava os vícios e as heresias — das quais o mundo estava então extremamente infectado — era como uma torrente de fogo que revira tudo, e à qual ninguém pode resistir. [...] Freqüentemente, se bem que falasse [durante o sermão] uma só língua, era entendido por pessoas de toda espécie de países”.(4) Daí seu sucesso extraordinário, tanto na Itália quanto na França.

Milagres como no tempo dos Apóstolos

As multidões acorriam, e até os comerciantes fechavam suas lojas para ir ouvi-lo; a cidade e toda a redondeza literalmente paravam. Sendo pequenas as igrejas para tanta gente — às vezes chegavam a juntar-se até 30 mil pessoas num só sermão — ele falava nas praças públicas. Quando terminava, “era necessário que alguns homens valentes e robustos o levantassem e protegessem das pessoas que vinham beijar-lhe a mão e tocar-lhe o hábito”.(5) O número de sacerdotes que o acompanhavam era pequeno para depois ouvirem as confissões dos que, tocados por seu sermão, queriam emendar-se de vida.

Seus sermões eram seguidos de milagres como não se viam desde o tempo dos Apóstolos. Praticamente não havia coxo, cego ou paralítico que, depois de receber sua bênção, não ficasse são. Numa ocasião converteu 22 ladrões, que por curiosidade foram ouvi-lo. O número de hereges por ele convertidos não tem fim.

Prega aos peixes para confundir os indiferentes








Milhares de peixes de vários tipos e tamanhos puseram a cabeça fora da água para ouvir o Santo



Um dos milagres mais conhecidos de Santo Antonio foi sua pregação aos peixes. Em Rimini, durante seu sermão, o povo se mantinha indiferente. Abandonando seus ouvintes, foi pregar à beira-mar. Milhares de peixes de vários tipos e tamanhos puseram a cabeça fora da água para ouvir o santo, que tinha sido seguido pela população da cidade, testemunha do milagre.

Santo Antonio foi cognominado “Martelo dos Hereges”, porque a heresia não teve inimigo mais formidável. Sua mais antiga biografia, conhecida pelo nome de Assídua, relata: “Dia e noite tinha discussões com os hereges; expunha-lhes com grande clareza o dogma católico; refutava vitoriosamente os preceitos deles, revelando em tudo ciência admirável e força suave de persuasão que penetrava a alma dos seus contrários”.(6)

Um heresiarca negava a Presença Real no Santíssimo Sacramento. Para acreditar, dizia, queria um milagre. E propôs o seguinte: deixaria sua mula sem comer durante três dias. Depois disso, oferecer-lhe-ia feno e aveia, e Frei Antonio a Hóstia consagrada. Se a besta deixasse a comida para ir adorar a Hóstia, ele creria, disse. Isso foi feito diante de toda a cidade. E a mula faminta, tendo que escolher entre o alimento e o respeito à Hóstia consagrada, foi ajoelhar-se diante desta, que o santo segurava nas mãos.

Desde a mais tenra infância Antonio fora devoto de Nossa Senhora, e Ela várias vezes o socorreu. Um dia, por exemplo, em que o demônio não podia mais suportar o bem que o santo fazia, agarrou-o pelo pescoço tão violentamente, que o enforcava. Antonio mal pôde balbuciar as palavras da antífona a Nossa Senhora, “O Gloriosa Domina”. No mesmo instante o demônio fugiu apavorado. Recomposto, Antonio viu a seu lado a Rainha do Céu resplandecente de glória.

“O santo morreu! O santo morreu!”

No ano de 1231, Frei Antonio, sentindo piorar a hidropisia maligna que o perseguia havia tempos, percebeu que sua hora chegara e quis morrer em Pádua, sua cidade de adoção. Quando o povo paduano ouviu dizer que ele estava chegando, acorreu em tal quantidade, que os frades que o acompanhavam, para livrá-lo do assédio, levaram-no para a casa do capelão das freiras clarissas, onde ele faleceu com apenas 40 anos de idade.

Imediatamente as crianças de Pádua saíram espontaneamente pelas ruas gritando: “O santo morreu! O santo morreu!”. Ao mesmo tempo, em Lisboa, sua cidade natal, os sinos puseram-se a repicar por si sós, e o povo saiu às ruas. Somente mais tarde é que souberam do ocorrido.

Tantos foram os milagres operados pelo santo em seu túmulo, que levaram o Papa Gregório IX a canonizá-lo apenas um ano depois de sua morte. Anualmente sua festividade é comemorada no dia 13 de junho.

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Notas:

1. Pio XII, Carta Apostólica de 16 de janeiro de 1946, apud Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo II, p. 252.

2. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Éditeurs, Paris, 1882, tomo VI, p. 617.

3. Frei Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 603.

4. P. Simon Martin, Vie des Saints, Bar-le-Duc, 1859, tomo II, pp. 946-947.

5. Pe. Pedro Ribadaneira, apud Dr. D. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compañía, Barcelona, 1896, tomo II, p. 425.

6. Apud Pe. José Leite, S.J., op.cit., p. 251.


quarta-feira, maio 23, 2007

Na Eucaristia, está verdadeiramente o corpo de Cristo, ou só em figura ou como símbolo?

Precisei de uma tradução de um artigo da suma para argumentar em uma polemica, vou aproveitar e deixa-la aqui, caso alguém mais precise. Lembrem-se de que São Tomás normalmente começa apresentando os erros, depois desenvolve a questão e finalmente apresenta as respostas a cada erro.

Suma Teológica - IIIa (Tertia)
Q.75 - A Conversão do pão e do vinho no corpo e sangue de Cristo.
Artigo 1

Neste sacramento, está verdadeiramente o corpo de Cristo, ou só em figura ou como símbolo?

Objeções pelas que parece que neste sacramento não está realmente o corpo de Cristo, senão só em figura ou como símbolo.

1. Diz-se em Jo 6,54.61.64 que quando o Senhor disse: Se não comerdes a carne do filho do homem e não beberdes seu sangue, etc., muitos de seus discípulos ao ouví-lo disseram: Esta linguagem é dura, a quem ele respondeu: O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. Como se dissesse, segundo a explicação de Santo Agostinho Super Quartum Psalmus: Entendei em sentido espiritual o que vos disse, pois não tereis que comer este corpo que veis, nem tereis que beber o sangue que fá-me-ão derramar os que me crucifiquem. Comuniquei-vos um mistério. Entendido espiritualmente vos vivificará. Mas a carne não serve para nada.

2. Ainda mais: o Senhor diz em Mt 28,20: Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo. E Santo Agostinho explica-o assim : Até que o mundo se acabe o Senhor está no céu. No entanto, também está aqui conosco a verdade do Senhor. Porque o corpo com que ressuscitou não pode estar em mais que um só lugar. Mas sua verdade em todas as partes se encontra. Logo o corpo de Cristo não se encontra realmente neste sacramento, senão sómente como símbolo.

3. Nenhum corpo pode estar ao mesmo tempo em vários lugares, já que nem sequer um anjo pode fazê-lo. E se pudesse, poderia estar também em todas partes. Mas o corpo de Cristo é verdadeiro corpo, e está no céu. Logo parece que não está realmente no sacramento do altar, senão somente como símbolo.

4. Os sacramentos da Igreja estão destinados à utilidade dos fiéis. Mas segundo São Gregório em uma Homilía, o soberano foi repreendido por reclamar a presença corporal de Cristo. Ademais, o apego que os apóstolos tinham a sua presença corporal impedia que recebessem o Espírito Santo, como diz Santo Agostinho comentando Jo 16,7: Se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Logo Cristo não está no sacramento do altar com presença corporal.

Contra isto: diz Santo Hilário no VIII De Trin. : Não há lugar para dúvidas sobre a realidade da carne e do sangue de Cristo. Nosso Senhor ensina e nossa fé aceita que agora sua carne é verdadeira comida e seu sangue é verdadeira bebida. E Santo Ambrósio no VI De Sacramentes afirma: Como o Senhor Jesus Cristo é verdadeiro Filho de Deus, assim é verdadeira a carne de Cristo a que nós recebemos e é verdadeiro seu sangue.

Respondo: Que neste sacramento está o verdadeiro corpo de Cristo e seu sangue, não o podem verificar os sentidos, senão somente a fé, que se fundamenta na autoridade divina. A respeito das palavras de Lc 22,19: Isto é o meu corpo, que é dado por vós, diz São Cirilo : Não duvides de que isto seja verdade, senão recebe com fé as palavras do Salvador, já que, sendo a verdade, não mente. Agora bem, esta presença se ajusta, em primeiro lugar, à perfeição da nova lei. Porque os sacrifícios da antiga lei continham esse verdadeiro sacrifício da paixão de Cristo somente em figura, de acordo com o que se diz em Heb 10,1: A lei, por ser apenas a sombra dos bens futuros, e não sua expressão real. Era justo, por tanto, que o sacrifício da nova lei, instituído por Cristo, tivesse algo mais, ou seja, que contivesse o próprio Cristo crucificado, não somente simbolizado ou em figura, senão também em sua realidade. E, por isso, este sacramento que contém realmente o próprio Cristo, como diz Dionisio em III De Eccl. Hier., é perfectivo(que mostra perfeição) de todos os sacramentos, que somente contêm a virtude de Cristo.

Segundo, esta presença ajusta-se à caridade de Cristo, pela que assumiu um corpo real da mesma natureza que a nossa para nossa salvação. E, porque é próprio à amizade compartilhar a vida com os amigos, como diz o Filósofo em IX Ethic., Cristo prometeu-nos sua presença corporal, como prêmio, no texto de Mt 24,28: Onde estiver o cadáver, ai se ajuntarão os abutres. Entretanto, contudo, não quis nos privar de sua presença corporal no tempo da peregrinação, senão que nos une com ele neste sacramento pela realidade de seu corpo e de seu sangue. Por isso diz em Jo 6,57: assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Por tanto, este sacramento é símbolo da maior caridade e alento de nossa esperança, pela união tão familiar de Cristo conosco.

Terceiro, esta presença ajusta-se à Perfeição da fé, que tem por objecto tanto a divindade de Cristo como a humanidade, segundo as palavras de Jo 14,11: Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. E, já que a fé é a respeito das coisas invisíveis, da mesma maneira que Cristo nos propõe sua divindade invisível, assim neste sacramento nos propõe sua carne de modo invisível. E, por não considerar estas razões, alguns sustentaram a opinião de que o corpo e o sangue de Cristo não estão neste sacramento mais que como símbolo. Mas tem de ser recusada esta opinião como herética por ser contrária às palavras de Cristo. Daí que Berengário, primeiro inventor deste erro, fosse obrigado a retratar-se depois, e confessasse a verdade da fé .

Às Respostas:
1. Os hereges que acabámos de mencionar tomaram ocasião para seu erro da autoridade de Santo Agustinho, interpretando mal suas palavras. Porque, quando diz Santo Agustinho: Não tereis que comer este corpo que veis, não pretende excluir a realidade do corpo de Cristo, senão somente afirmar que não lhe tinham de comer na mesma forma em que eles lhe viam. Quando diz: Comuniquei-vos um mistério. Entendido espiritualmente, vos vivificará, não pretende dizer que o corpo de Cristo está neste sacramento em sentido místico somente, senão que está espiritualmente, ou seja, invisivelmente e com as propriedades do espírito. Por isso em Super lo., explicando as palavras: a carne não serve para nada, afirma: do modo que eles o entenderam. Porque eles entenderam que tinham de comer sua carne como se tira pedaços de um cadáver ou como se vende no açougue e não como animada pelo espírito. Que desça o espírito sobre a carne e servirá para muito. Porque se a carne não serve para nada, o Verbo não se faria carne para habitar entre nós.

2. À segunda há que se dizer: As palavras de Santo Agustinho e outras semelhantes têm de entender-se sobre o corpo de Cristo fisicamente visível, do modo que o próprio Senhor diz em Mt 26,11: mas a mim nem sempre tereis. Invisivelmente, no entanto, sob os elementos deste sacramento, está onde quer que se realize este sacramento.

3. O corpo de Cristo não está neste sacramento como um corpo está num lugar com o qual coincidem todas suas dimensões, senão do modo especial e próprio deste sacramento. Daí que digamos que o corpo de Cristo está em diversos altares, não como diferentes lugares, senão como está no sacramento. O qual não quer dizer que Cristo esteja ali somente como símbolo, ainda que o sacramento pertença à categoria dos símbolos, senão que entendemos que o corpo de Cristo está aí, como já se disse, do modo próprio e peculiar deste sacramento.

4. A Objeção é válida se refere-se à presença do corpo de Cristo fisicamente entendida, ou seja, em seu semblante visível, mas não se se refere à presença espiritual, ou seja, invisível, segundo o modo e as propriedades do espírito. Pelo que Santo Agustinho diz em Super lo. : Se entendeste espiritualmente as palavras de Cristo sobre sua carne, serão para ti espírito e vida. Se entendeste-as carnalmente, também são espírito e vida, mas não o são para ti.

Traduzido a partir do espanhol em
http://hjg.com.ar/sumat/d/c75.html

quarta-feira, maio 09, 2007

Ciência x Religião

L'AMOR CHE MUOVE IL SOLE E L'ALTRE STELLE
Gustavo Corção

O presente texto é parte de uma longa polêmica contra o filósofo Euryalo Cannabrava, que então publicara alguns artigos atacando a filosofia tomista. A tese a que alude Gustavo Corção é a que levaria o sr. Euryalo à cátedra de filosofia do Pedro II.

Um curioso exemplo da falta de precisão científica em que incide certa espécie de filosofia cientificista, pode ser colhido na página setenta e quatro da tese que o Sr. Euryalo Cannabrava apresentou no seu concurso. Depois de muitas considerações tortuosas sobre a diferença que existe entre a linguagem científica e a linguagem poética, diz ele o seguinte:
"Cabe aqui perguntar se a frase "L'Amore que muove il sole e l'altre stelle" poderá ser considerada uma proposição. A fim de responder a essa pergunta, é necessário resolver preliminarmente se o seu enunciado será falso ou verdadeiro. Sob o ponto de vista da linguagem científica "L'Amore que muove il sole e l'altre stelle" se considera falso. o que move o sol e as estrelas não é o amor, mas o que está expresso na lei de Kepler, de acordo com a qual os astros descrevem, na sua órbita, uma elipse de que o sol ocupa um dos focos."
Analisemos esta passagem. Preliminarmente devemos notar que o verso de Dante diz "L'Amor" e não "L'Amore"; e que em italiano se diz "che" e não "que". Parece-me também que a construção "os astros descrevem, na sua órbita, uma elipse" ficaria muito melhor assim: "... os astros descrevem órbitas elípticas" ou "... descrevem elipses". Assim como está, a frase dá uma idéia engraçada: a órbita parece uma pista, uma estrada, na qual o astro faça uma elipse. Tudo isto porém importa relativamente pouco; o que importa é o conteúdo. Vamos a ele.
Diz o autor que não é o amor que move o sol e as estrelas, é o que está expresso na lei de Kepler. Ora, essa proposição, apesar das aparência, é muito menos científica do que o verso de Dante. Essa proposição é falsa. As leis de Kepler exprimem apenas como se movem os astros e não o que os move. Quando o grande astrônomo enuncia que os planetas descrevem elipses em que os quadrados dos tempos de revolução são proporcionais aos cubos dos eixos maiores, a causa eficiente, aquilo que move, não entra de modo algum em seu enunciado. E basta esse pequeno detalhe para me autorizar a dizer que a frase "o que move o sol e as estrelas é o que está expresso na lei de Kepler..." seria admissível na boca de um desprevenido bombeiro hidráulico que acabasse de ler o último número de Seleções, mas é imperdoável na tese de um candidato à cátedra de filosofia. Essa frase revela um irrecuperável escript de lourdeur, uma absoluta ausência de precisão cientifica, e sobretudo uma total incapacidade filosófica.
Além disso cumpre notar que as leis de Kepler só se referem aos movimentos planetários e que, por conseguinte, nem para exprimir apenas o modo do movimento convém ao sol e às estrelas, cujos movimentos próprios nada têm a ver com essas leis. Devo também assinalar que as órbitas planetárias só são elípticas se não levarmos em conta o movimento próprio do sol e as perturbações dos outros planetas. Há portanto na frase em questão um erro formal e um erro material.
Mas o erro grave que torna a frase falsa, realmente falsa, cientificamente falsa, astronomicamente falsa, é a ingênua e grosseira afirmação de que as leis de Kepler exprimem a causa eficiente, aquilo que move os astros. Para ilustrar melhor esse tipo de erro, passando-o da astronomia a um fenômeno mais trivial, eu imagino o sr. Cannabrava ao lado de Dante, a observar a travessura de um garoto que atirou uma pedra no lampião da esquina. Dante Alighiere, com profunda sabedoria, dirá:
— Aquele menino quebrou o lampião.
E o sr. Euryalo Cannabrava, olhando com superioridade os ressecados louros do florentino, corrigirá:
— Não, o que moveu a pedra e conseqüentemente quebrou o vidro é o que está expresso pela lei parabólica do movimento dos corpos pesados...
Deve-se então punir a equação, e não o garoto.
Se o autor daquela frase tivesse dito "leis de Newton" em lugar de leis de Kepler, o erro de sua proposição seria menos aparente, porque aquelas leis, embora ainda sejam expressões de modalidade, incluem uma referência à causa próxima da interação dos corpos celestes. Os corpos se atraem na proporção direta das massas e na inversa do quadrado das distâncias. Cinqüenta anos depois do grande Kepler, o imenso Newton virá dar maior unidade à mecânica celeste. Mas ainda não se pode dizer com propriedade que o que move o sol e as estrelas é o que está expresso na equação de Newton. A gravitação universal é um fato físico, e a lei de Newton descreve como agem os corpos dentro dessa realidade física que em si mesma é distinta dos símbolos matemáticos. A realidade das causas mais profundas que movem os astros escapa ao tratamento matemático e pertence ao domínio propriamente filosófico pelo qual o Sr. Cannabrava nutre tamanha aversão. Posso convir que uma pessoa seja agnóstica e que leve seu positivismo até o ponto de se desinteressar pelas causas profundas. Neste caso, porém, deve dizer: eu não sei o que é que move os astros, só sei que eles se movem assim...
A gravitação universal que o físico examina e mede é o aspecto sensível, quantitativo, de uma gravitação universal metafísica dentro da qual todas as naturezas, incluindo as supra-sensíveis, se movem segundo suas intrínsecas inclinações. Os filósofos, que Dante conhecia muito bem, falam num apetite natural. Qualquer manual elementar de filosofia ensina que na raiz de cada natureza há inclinações, ordenações essenciais que a movem para o seu fim ou para o seu bem. A noção de bem metafísico, coextensiva à noção de ser, é análoga ao que há de atraente e atrativo nas massas dos corpos físicos. Atrás das fórmulas de Newton há portanto, a realidade subjacente, a massa real, a corporiedade, que o físico matemático deixa ao abstrair o quantitativo que designa pela letra m: como atrás das medidas antropométricas do sr. Cannabrava há uma realidade humana maior e muito mais respeitável do que suas dimensões. E atrás do dinamismo expresso pelas forças designadas pela letra f há a realidade maior, subjacente, do dinamismo da natureza que os filósofos chamam de apetite natural.
Quando se trata de movimentos consciente de seres racionais, e conseguintemente livres, esse apetite se chama amor. Os filósofos da tradição aristotélico-tomista usam freqüentemente o termo "amor" em sentido largo, como sinônimo de apetite natural. No vocabulário de Lalande, por exemplo, encontramos: "Amor, sentido A: nome comum a todas as tendências atrativas, etc." Em São Francisco de Salles, no Traité de l'Amour de Dieu, encontramos a expressão amor aplicada à atração entre o ferro e o imã. No compêndio de Thonnard encontraremos a expressão amor para designar o tropismo das plantas.
Ora, isto nos mostra que o verso de Dante é muito mais verdadeiro (cientifica e filosoficamente) do que a pesada e torta frase do candidato à cátedra do Pedro II. Dizendo que é o amor que move os astros, o poeta anunciava, trezentos e tantos anos antes de Newton, a gravitação universal. Além disso o verso de Dante tem um sentido principal que ainda é mais profundo, que é mais verdadeiro do que todas as equações do mundo. Se nós pensarmos na causa primeira e no Motor de todos os seres, e se nós pensarmos no Fim a que todos os seres estão ordenados, veremos que em primeira e última instância é Ele que move o sol e as estrelas. Ora, o seu nome é Amor.
Aliás, o bom Kepler conhecia esse nome, e nunca pretendeu substituí-lo por suas equações. É no seu livro Harmonices Mundi Libri V que o grande astrônomo, depois de uma série de cogitações mais ou menos destituídas de valor, anuncia a sua grande descoberta. E eis como arremata ele, no estilo do salmista, sua memorável comunicação sobre as órbitas planetárias:
"A sabedoria de Deus é infinita, assim como sua Glória e seu Poder. Céus, cantai o seu louvor. Sol, lua, planetas, glorificai-o na vossa linguagem inefável. Harmonias celestes, e vós todos que procurais compreendê-las, louvai-o. E tu, alma minha, louva o teu Criador. É por Ele e n'Ele que tudo existe. O que nós ignoramos está encerrado n'Ele, bem como a nossa vã ciência. A Ele louvor, honra e glória, em todos os séculos e séculos".
E logo abaixo desse hino o bom astrônomo acrescentou esta tocante palavra de humana gratidão: "Glória também a Moestin, o meu velho professor".
Por onde se vê que é também o amor (stricto sensu) que move os verdadeiros astrônomos.
P.S. O divertido desafio que me lançou o sr. Cannabrava terá resposta satisfatória na primeira oportunidade. Agradeço penhorado os telegramas do major Schneider e do capitão Alencastro, bem como o telefonema do major Solano, relativos ao artigo que escrevi sobre o inesquecível amigo Nathan Neugroschel.
(Diário de Notícias, 28-12-52)

terça-feira, maio 08, 2007

Uma Tartaruga Frustrada

Sempre gostei de aprender, leio muito, deste pequeno, acho que efeito dos muitos livros que me cercavam em casa.
Mas como em todo vício, saturado pela continuidade, as doses ficam insuficientes e devem crescer, com isto, a necessidade de ler mais, aprender mais, vai exigindo um conhecimento cada vez mais profundo. E este conhecimento mais profundo exige princípios mais aprofundados. E chega um momento que, parece-me, cada frase lida exige um novo conhecimento, que deve ser buscado, e o "conhecimento todo" fica mais longe, com mais etapas para ser compreendido.
Parece-me, que após cada nova leitura, há mais coisas a ler, e o tempo para isto diminuiu. E na flor dos 35 anos já não sei se poderei ler tudo que almejo.
Lembro-me de uma estória que falava do animal de estimação mais frustrado do mundo, uma tartaruga, que de tanto conviver com um cachorro, adquiriu deste o mesmo tique, correr atrás e morder os pneus dos carros que passavam.

Só um desabafo!

terça-feira, abril 17, 2007

A (minha) Verdade...

Dia a dia, durante as poucas discussões teológicas ou filosóficas que travo, ao não ter mais argumentos, ou por não ter argumentos, é comum alguém repetir algumas asneiras como:

  • Eu tenho a minha verdade, você tem a sua;
  • Cada um tem a sua verdade;
  • A verdade é relativa;
  • Eu acho que é assim;
  • A verdade depende do ponto de vista;

Então vamos a ela, a VERDADE.

Nosso conceito de verdade vem de 3 origens: do grego "aletheia", significando: não-oculto, não-escondido, não-dissimulado. O verdadeiro é o que se manifesta (se dá a conhecer) aos olhos do corpo e do espírito (razão); a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe tal como é. O verdadeiro se opõe ao falso, pseudos, que é o encoberto, o escondido, o dissimulado, o que parece ser e não é como parece. O verdadeiro é o evidente ou o plenamente visível para a razão; do latim "veritas" que se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes, pormenores e fidelidade o que aconteceu. Verdadeiro se refere, portanto, à linguagem enquanto narrativa de fatos acontecidos, refere-se a enunciados que dizem fielmente as coisas tais como foram ou aconteceram. Um relato é veraz ou dotado de veracidade quando a linguagem enuncia os fatos reais; do hebraico "emunah" que significa confiança. Agora são as pessoas e é Deus quem são verdadeiros. Um Deus verdadeiro ou um amigo verdadeiro são aqueles que cumprem o que prometem, são fiéis à palavra dada ou a um pacto feito; enfim, não traem a confiança.

Aletheia se refere ao que as coisas são; veritas se refere aos fatos que foram; emunah se refere às ações e as coisas que serão. A nossa concepção da verdade é uma síntese dessas três fontes e por isso se refere às coisas presentes (como na aletheia), aos fatos passados (como na veritas) e às coisas futuras (como na emunah). Também se refere à própria realidade (como na aletheia), à linguagem (como na veritas) e à confiança-esperança (como na emunah).[1]

Num debate discute-se(através da linguagem) idéias, e conceitos, nestes a mais simples definição de verdade é :Verdade é a perfeita conformidade entre a idéia de um ente e este ente, ou seja Verdade é a conformidade do conhecimento com o real.[2]

A verdade é universal - não importa o lugar ou a época, 2+2 = 4 e não muda ainda que a maioria venha a dizer que é 5.
A verdade é objetiva - não depende do sujeito que conhece(tem a idéia) e sim do objeto conhecido.
A verdade é uma só - não podemos ter duas "representações exatas de um ente" diferentes entre si.

A verdade não depende do que eu acho, ou do que você acha, ou do que a maioria acha; se eu, você, ou mesmo a maioria absoluta, acharmos que o sol é frio, ele não vai dar pelotas, não vai comprar um cachecol, e vai continuar sendo o que é.

Quem desenvolve uma idéia que não condiz com a realidade é louco. E eu já começo "achar" que vivo em um hospício amplo e liberal.

É possível que cada um tenha a sua opinião, mas opinião é uma idéia não fundamentada, ou seja é uma idéia que alguém forma, sem conhecimento real do objeto, opinião é o ACHO e não a VERDADE.

O que eu ACHO não vale nada, o que você ACHA não vale nada, e o que a maioria ACHA não vale nada, vale o que é, vale a verdade.

Alguém tem outra?

[1] Convite a Filosofia - Marilena Chaui - Un. 3 Cap. 3
[2] Dic Michaelis - Versão Eletrônica - "Verdade"

quinta-feira, março 22, 2007

Citações

"Crente e incrédulo, cada qual a seu modo, participam da dúvida e da fé, caso não se ocultem de si mesmos e da verdade de sua existência" (J. Ratzinger).

“Aconteceu uma vez... Produziu-se uma incêndio num circo, situado perto de uma cidadezinha do interior. O diretor enviou um palhaço, que estava trajado para o espetáculo, para informar o que estava acontecendo, ao povo da cidade. O palhaço tentou convencer às pessoas reunidas na praça, para que fossem ajudar no circo, apagar o incêndio que se havia produzido em suas instalações. Os gritos do palhaço foram interpretados como um truque do ofício. Não conseguiu convencer a ninguém. Aplaudiam-lhe e riam até as lágrimas. Ele, porém, fez tudo o possível para convencer o povo que não era ficção, nem truques do ofício, senão que se tratava de uma dura e triste realidade. Suas lágrimas apenas conseguiam o efeito de intensificar as risadas daqueles que o viam e escutavam. O espetáculo durou até que o fogo se alastrou por toda a cidadezinha. A ajuda chegou tarde. Infelizmente, o circo e a cidade foram devastados pelas chamas”.(Conto de Soren Kierkegaard)

"A linguagem defasada da fé assemelha-se a essa imagem: vestidos com roupas de palhaço, fazemos rir as pessoas em vez de anunciar-lhes a boa-nova de Jesus Cristo." (comentário de J. Ratzinger ao conto de S. Kierkegaard)

No fundo de todo cristão dorme um ateu que a qualquer momento pode acordar e fazer perguntas fatais a quem nunca pensou em profundidade sua fé. (J. B. Libanio)

Comentários retirados do livro "Introdução ao Cristianismo" de J. Ratzinger, que pode ser encontrado AQUI.

segunda-feira, março 12, 2007

Sacramentum Caritatis

Amanhã será publicada a exortação apostólica pós-sinodal "Sacramentum Caritatis", Falando da "Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja".

Neste documento Bento XVI deve pedir ou ordenar, e eu espero que ele ordene, algumas alterações liturgicas, para corrigir e coibir abusos durante a celebração da missa, entre eles:

  • A retirada de instrumentos eletrônicos;
  • A redução (ou eliminação) das músicas seculares;
  • Um maior (ou pleno) uso do canto gregoriano e da música polifônica;
  • Um maior uso do latim;
  • O celebrante assumir novamente a posição "versus Deum", ou seja de costas para a assembléia e voltado para Deus.

Alguns acreditam que este documento seja uma preparação para um motu próprio a ser publicado, talvez ainda na quaresma, que irá liberar amplamente o uso do missal antigo, nós estamos em oração para que não lhe falte coragem, e que dele se afastem os lobos.